quarta-feira, 1 de maio de 2013

Dos tombos...



Hoje a tarde fizemos um picnic no parque com as crianças. Foi uma tarde inteira, e rolou muita brincadeira.
A Isa, mais velha de todas, balançou, escorregou, subiu no trepa trepa e na árvore grandona que tinha lá e foi alto, bem alto pro tamanho dela (pro meu também, diga-se de passagem).
Eu, como mãe, acredito nela! Sim, faço a escolha de acreditar que ela é capaz de vencer desafios, de superar. Eu escolho não falar pra ela não subir, porque pode cair. Não ameaço. Eu fico vendo, atenta, observo quão encantador é uma garotinha de 6 anos usando a lógica, a capacidade motora, o equilíbrio para escalar e se manter no alto de um galho.
Acredito que faz parte da infância, quando a gente não aprende e desenvolve essas sapequices pequeninos, não temos novas chances. Ninguém aprende a subir com força e delicadeza uma árvore depois de adulto. Nós podemos aprender fazer muitas coisas, inclusive podemos subir, mas nunca com a agilidade do corpinho elástico, atento e enérgico de uma criança.
A Isa aprendeu hoje a virar cambalhota no brinquedo de argola. Virou, virou e virou. Tantas foram as viradas e no final do dia, as mãos cansadinhas escorregaram e ela caiu. Caiu de rosto na areia. Ralou, cortou, sangrou. Um choro doído invadiu o espaço que antes era só de gritinhos e risadas. Eu, nervosa, mas sabendo que cair também faz parte da infância, também faz parte da vida, fui cuidar, acolher.
Meu papel na hora era exatamente de quem cuida e acolhe. Eu não iria resolver o problema, ninguém iria. O papel ali do cuidador é respeitar, não tentar sufocar o choro. Não falar besteiras e ofender. Entre abraços, lágrimas, colo, voltamos pra casa. Limpamos os machucados e ela se acalmou.
Em nossas conversas, estava presente todo o tempo que cair é difícil mesmo. Dói. Porém que isso acontece com quem se permite aventurar. Acontece com criança que corre, que sobe, que pula. Acontece com criança que brinca. Durante o banho, me lembrei de uma foto de uma criança que havia de machucado, me recordei na hora que o tombo surgiu numa brincadeira de correr e que outra pessoa ainda falou algo como "criança que corre se machuca". Pensando agora, devo ter ouvido tantas vezes que a criança não deve subir, não deve balançar tão alto, não deve correr rápido (como seria correr devagar?) que já perdi as contas. Deve ser muito triste ser criança e não poder experimentar as delícias e as dores da infância. Crescer em um ambiente cercado de medo, ameaça. Quando a gente fala para os pequenos: "Não corram que vocês podem se machucar" estamos usando a ameaça, o nosso medo deles se machucarem. Estamos colocando uma limitação nossa para que a criança não desenvolva. Estamos educando para alimentar o medo, a negatividade. Para não confiar.
A gente também aprende com as quedas, a gente aprende com a dor. Como se levantar, como lidar com aquele momento de dificuldade. A gente aprende inclusive como evitar uma próxima queda pelo mesmo motivo.
Como formamos adultos que lidem melhor com o medo? Com os desafios? Que acreditem que são capazes, que seus corpos funcionam? Como explicamos para as crianças que cair dói, é difícil e passa? Que faz parte da vida? Que não evitamos uma queda apenas deixando de viver? Pra mim não tem teoria, é na experiência.
E quão lindo é poder ver e estar do lado das crianças nesses momentos. Lindo foi vê-la subir levando em conta seu próprio limite, apenas confiando nela mesma. Lindo foi ver seus olhos brilhando a cada conquista. Lindo vê-la sentir-se respeitada, acolhida e pronta.
Bem, eu já passei dessa fase. Eu já aprendi sendo a criança suja, suada e sapeca. Agora é a minha vez de observar, acolher e cuidar sempre que preciso, confiar, respeitar e permitir. <3
Filha, você é mesmo incrível!


2 comentários: